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terça-feira, 24 de setembro de 2013

OTELO, O MOURO DE VENEZA - Por Shakespeare


OTELO, O MOURO DE VENEZA 
 Por Shakespeare 
                 Veneza, ainda que hoje em dia seja apenas uma das mais lindas cidades da Itália, foi antes a capital de uma grande república, que enviava embaixadores às mais poderosas nações do mundo e exercia o seu domínio sobre muitas outras cidades; os seus inúmeros navios levavam o comércio veneziano a longínquos países e os seus soldados e marinheiros conquistavam terras em diversos pontos, onde em breve floresciam brilhantes e prósperas colônias. Naqueles tempos de grandeza e poderio, um mouro do Norte da África,chamado Otelo, homem grande, forte e proporcionado, de pele bronzeada, tornara-se tão célebre pelo seu talento e bravura, que Veneza o fizera general do seu exército. Tinha um espírito elevado e cheio de ilustração, uma rara eloquência, e era tão hábil, que apesar de sua cor escura, e numa época cheia de preconceitos, lhe confiaram o governo da ilha de Chipre que pertencia então à república veneziana. 
                  Teve Otelo a espantosa sorte de prender o coração de uma das mais formosas e ilustres senhoras de Veneza, Desdêmona, filha de Brabancio, senador e membro do governo. Entre tantos pretendentes ricos, poderosos e nobres que aspiravam a sua mão, Desdêmona escolheu Otelo. apesar da sua cor. Mas Desdêmona, que era uma senhora de grande coração e esclarecida inteligência, deixou-se encantar pela nobre alma e brilhante eloquência do destemido guerreiro. A sua maior delícia era escutar durante horas, as emocionantes narrativas da batalhas em que ele tomara parte, dos lances arriscadíssimos em que se encontrara, dos costumes e aspectos das terrar que visitara e das estranhas aventuras que o destino lhe proporcionara na terra e no mar. 
                    Brabancio,  o pai de Desdêmona, ignorava a paixão da filha; e ela ocultava aquele amor no fundo do seu coração porque bem sabia que o pai nunca consentiria no seu casamento com Otelo. 
                    Uma noite foram dois homens acordar Brabãncio e dizer-lhe que Desdêmona fugira para casar com o governador de Chipre.  Um daqueles homens  era Yago, que servia Otelo havia muito tempo na qualidade de oficial e que o odiava desde que o general linha feito de Cássio seu ajudante, preferindo-o a Yago, que esperava ser o escolhido para aquele cobiçado lugar. Yago era astuto, hipócrita, rancoroso e capaz de vilanias; Cássio, pelo contrário, era franco e leal, mas muito confiante e de gênio fraco. 
                    A cólera de Brabancio, ao saber a terrível notícia, foi medonha. Dirigiu-se imediatamente ao doge de Veneza e aos senadores, queixando-se do procedimento de Otelo e pedindo contra ele os maiores castigos, estes,ao princípio, mostraram-se favoráveis ao pai de Desdêmona e prometeram´lhe apoio. Mas Otelo, chamado á presença deles para responder pelo seu ato, fê-lo com tal brilho e nobreza que soube ganhar para a sua causa o doge e os senadores, que mais depressa ainda concederam o perdão, quando Desdêmona, cheia de firmeza, modéstia e dignidade, lhes declarou que amava Otelo com todas as forças do seu coração e tinha orgulho em ser sua esposa. 
                    Naquela mesma noite a dedicação de Otelo pela pátria a qual tão bem servira sempre, foi novamente posta à prova; avisaram-no que a ilha de Chipre, da qual era governador, se encontrava em perigo, ameaçada pelos turcos. 
                    O valente guerreiro partiu logo, deixando a sua esposa confiada aos cuidados do "honrado Yago", pois Otelo continuava a confiar na lealdade  deste homem; e Emília, mulher de Yago, foi chamada para servir de companheira a Desdêmona. Cássio partiu num segundo navio e Desdêmona num terceiro. 
                     Cássio foi o primeiro a chegar  Chipre, tendo perdido de vista o navio de Otelo, durante uma tempestade;  e Yago, que, com sua mulher e Desdêmona, tivera uma viagem mais rápida e feliz, alcançou a ilha antes da chegada do governador. O ódio de Yago e a sua inveja contra Cássio manifestaram-se imediatamente, e o seu cérebro malicioso e astuto principiou a forjar o laço pelo qual tencionava perder o ajudante, a quem Desdêmona tratava com mais confiança e simpatia do que ao hipócrita Yago. 
                   Quando Otelo chegou, pouco depois de Desdêmona, teve a alegria de ser informado de que a esquadra turca fora destroçada pelo mesmo temporal que estivera prestes a afundar o seu seu próprio navio, pois assim, livre dos cuidados de guerra, teria mais tempo para se dedicar à sua adorada Desdêmona. Na noite da sua chegada, ordenou o mouro a Cássio que cuidasse de manter a ordem no castelo e que procurasse evitar por todos os meios qualquer distúrbio entre os soldados. 
                   Entretanto o mesquinho Yago ia urdindo a sua trama. Convidando Cássio para beber com ele, tanto fez e de tal modo se portou que conseguiu embriagá-lo, e, metendo-o depois numa rixa, o infeliz Cássio, completamente ébrio, desafiou e feriu Montana, o governador d Ilha, que Otelo justamente vinha substituir. Chegou este ao lugar da rixa, e, pedindo explicações do que acabava de de se passar, Yago contou-lhe hipocritamente os acontecimentos, fingindo querer desculpar Cássio. Otelo ouviu-o com atenção, e chamando Cássio disse-lhe com tristeza: 
                  - Cássio, continuo a estimar-te, mas desta hora em diante, deixas de ser meu ajudante. 
                  E entregou  Yago a guarda do castelo. Assim teve bom resultado a primeira parte do seu negro plano de traição. Mas faltava o pior.
                  O pobre Cássio recorreu a Desdêmona para que intercedesse por ele junto d seu marido. Fê-lo a boa Desdêmona; mas Yago conseguiu, como um grande tratante que era, fazer pensar a Otelo que, se ela intercedia a favor de Cássio era porque se enamorara dele. Destilara com tanta hipocrisia e cuidado o veneno da dúvida no espírito de Otelo, que por fim o mouro começou a perder a fé imensa que tinha na sua esposa e tornou-se quase doido de ciumes.  O destino favoreceu os perversos planos de Yago. 
                  Antes do casamento, dera Otelo a Desdêmona um lenço muito rico, ao qual atribuía certos podres mágicos; o de tornar a sua dona amada e amável e o de a tornar odiosa se o perdesse. Yago instigou Emília, sua mulher, para que roubasse a Desdêmona este lenço.
                  Um dia, estando Otelo triste e atormentado com aquelas dúvidas que agora lhe não davam descanso,  queixou-se de dores de cabeça. Desdêmona ofereceu-lhe o lenço, mas ela atirou-o ao chão, dizendo que era pequeno demais. Emília apanhou-o prontamente e logo o deu a Yago, que o levou dissimuladamente para a casa de Cássio, onde o deixou cair. Cássio, que não conhecia aquele lenço, pensou que uma sua namorada o tivesse perdido e Yago arranjou as coisas de maneira que ele lhe mostrasse o lenço num certo quarto do castelo onde Otelo se escondera, para verificar se era  o de Desdêmona, e ter assim a prova  de que ela dera a Cássio aquela prenda oferecida pelo marido e que devia ter em tanta estimação. 
                   Convenceu-se então que Desdêmona  já não o amava, e, louco de ciumes e de dor, resolveu-se a matá-la. Entrou de noite no quarto de  Desdêmona, onde a encontrou adormecida no seu leito. Contemplou-a por um momento, e achou-a tão linda que se inclinou e beijou-a. Este beijo despertou-a e, em resposta às perguntas que ela lhe fazia ao vê-lo tão zangado e sem suspeitar a causa do seu desgosto, disse-lhe ele que fizesse as suas orações encomendando a alma a Deus, pois ia morrer, porque ele bem conhecia o seu amor por Cássio. Em vão a infeliz Desdêmona protestou a sua inocência e lhe assegurou com a expressão mais pura e sincera da verdade o seu profundo amor. Otelo, enfurecido pelo ciúme, cobriu-a com a roupa da cama e estrangulou-a. 
                   Não estava porém ainda morta quando a porta do quarto se abriu e Emília, que ouvira o ruído da luta, entrou precipitadamente e contou a Otelo todas as mentiras e intrigas  de Yago, exclamando que o mouro enganado por aquele tratante, tinha assassinado uma santa, cujas últimas palavras tinham sido de expressão do seu profundo amor pelo marido. 
                   Nesse momento entrou Yago e, vendo-se denunciado por sua mulher, apunhalou-a cheio de raiva e quis fugir em seguida; porém, agarrado pelos servidores de Otelo, trouxeram-no estes à presença de seu amo que, cheio de furor, o feriu  de morte. 
                   Compreendendo, no meio da sua terrível dor, quanto fora imbecil fiando-se numa tão mesquinha e torpe criatura como era Yago, a ponto de desconfiar  de uma esposa tão fiel, dedicada e boa, Otelo, desesperado, apunhalou-se, e, caindo sobre o corpo da inocente e linda  Desdêmona, exclamou, já nas ânsias da agonia:
                   - Oh! minha Desdêmona! Antes de te matar beijei-te; o que havia eu fazer depois, senão matar-me também e morrer abraçado a ti!

NOTAS SOBRE AS OBRAS DE SHAKESPEARE 
A maioria dos enredos das comédias e tragédias de Shakespeare já se encontravam em narrativas que ele não tinha inventado. Muito antes do grande poeta os empregar nas suas obras dramáticas, muitos desses enredos já eram populares na Europa. No entanto, estariam agora e para sempre esquecidos se ele não os tivesse repetido por intermédio das personagens imortais criadas pelo seu gênio e com sua linguagem maravilhosa. Shakespeare escreveu tragédias e comédias, e foi igualmente célebre em ambos os gêneros. 
Pesquisa, resumo e postagem 
Nicéas Romeo Zanchett 
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