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segunda-feira, 17 de junho de 2013

O CONDE DE MONTE-CRISTO- Por Alexandre Dumas


O CONDE DE MONTE-CRISTO
Alexandre Dumas
                Dentre todos os livros mais lidos do mundo, ocupa lugar de destaque o romance de Alexandre Dumas, intitulado o Conde de Monte-Cristo. Os numerosos anos não diminuíram o encanto que essa obra exerceu sobre nossos avós. Ainda hoje, muitos leitores se comovem e entusiasmam com as vicissitudes de Edmundo Dantés e Mercedes, com a perfídia de Danglars, com a felonia de Fernando Mondego, enfim, com todos os personagens que se apresentam nas aventuras desenroladas nesse romance, tão arrebatador e cheio de fantasia. Alexandre Dumas tinha quarenta e um anos  quando a obra foi publicada. 

                    A quem contempla, do alto de Nossa Senhora da Guarda, Marselha e seu porto, se apresenta, à esquerda da baía do mesmo porto, uma ilhota acidentada, com uma área de poucas centenas de metros; é a pequena ilha de If, onde surgem os restos de um castelo-fortaleza, que no passado, constituiu uma das defesas da ilustre cidade litorânea. Em "O Conde de Monte-Cristo, aquele castelo desempenha importante  papel, porque, em seus tétricos calabouços, se desenvolve  a ação do romance. 
                    O personagem principal é Edmundo Dantés, um jovem  oficial da marinha mercante, leal e generoso, que durante uma viagem do veleiro em que embarcara, chega à ilha de Elba, onde está relegado Napoleão Bonaparte, entre fins de 1814 e princípio de 1815. A Edmundo Dantés é confiada uma carta, que ele deverá entregar aos bonapartistas marselhenses, mas dois homens, com inveja do muito jovem oficial, tramam contra ele, denunciando-o como conspirador que trabalhava para a volta de Napoleão  ao poder. 
                    O mais encarniçado dos dois é Danglars, secretário armador, junto ao qual Edmundo goza de simpatia e cordialidade, e o outro é um catalão, Fernando Mondego, apaixonado pela prima Mercedes, noiva de Edmundo. Um terceiro personagem, o alfaiate Caderousse, assiste, sem protestar, à infâmia que ambos estão cometendo, escrevendo uma carta anônima, a fim de denunciar seu amigo e rival. Por isso, no próprio dia da celebração de núpcias de Mercedes e Edmundo, os esbirros borbônicos interrompem a cerimônia, prendem e levam consigo o inocente, que é trancafiado numa cela subterrânea do castelo de If. 
Inutilmente, o velho pai do prisioneiro se movimenta, a fim de poder provar a inocência do filho, pois ninguém o atende, e também em vão trabalha para o mesmo fim o honesto armador Morel. 
                    Os acontecimentos se precipitam, e talvez Edmundo ficaria  isento de qualquer culpa e posto em liberdade,  se não tivesse tido a desventura de ser interrogado por um pérfido juiz  o Senhor de Villefort, ao qual o acusado confessa que a carta pela qual ele está preso era dirigida a um irrequieto bonapartista que, infelizmente, é pai do mesmo juiz. Este então, receando que um processo contra seu pai pudesse comprometer-lha a carreira, ordena que Edmundo permaneça prisioneiro no castelo de If. E, nessa relegação absoluta, o infeliz Dantés irá viver catorze duros anos, porque durante seu efêmero regresso, que durou cem dias, Napoleão não teve tempo de interessar-se pelo recluso. Uma vez desaparecido definitivamente o derrotado Corso, o Senhor de Villefort não muda a decisão; a fim de poder prosseguir  tranquilamente  sua própria ambiciosa carreira de magistrado, sem ter a mácula de um pai acusado de conspiração, Edmundo Dantés deverá continuar nas celas de If. 
                    Edmundo encontra-se, portanto, sozinho, num cárcere subterrâneo, mas, um dia, ao seu ouvido ansioso chega  o débil eco de algumas pancadas, como de um escavador que, lentissimamente, estivesse trabalhando rumo a uma das paredes de seu cubículo. Pouco depois, de fato, eis que uma laje de pedra cede e do buraco surge um velho,  de cabelos e barbas compridos; é o Abade Faria, condenado e enterrado numa cela pouco distante daquela  do marinheiro. A princípio, o Abade Faria fica aturdido; ao cavar, contava sair no mar, mas enganara-se inexplicavelmente  e fora aparecer em outra cela. Mas Edmundo, ante a tentativa fracassada do companheiro de infortúnio, sente-se compelido a imitá-lo; irá cavar outra galeria,e, por meio desta, ele e o velho evadir-se-ão. Será necessário algum ano de trabalho, mas isso não importa. No entanto, durante as longas horas que cotidianamente passam juntos, o velho instrui o jovem; dotado de cultura realmente espantosa, o Abade Faria encontra em Edmundo um aluno cheio de atenção e de inteligência, que o haviam capturado; depois, arruína Villefort, facilitando um crime de sua esposa, que acaba se suicidando, e, no espaço de poucos meses, o jovem homem do mar extrai vantajoso proveito dos doutos ensinamentos do seu amigo, enquanto os trabalhos do novo túnel progridem. Mas, um dia, o pobre Abade morre. Desesperado, Edmundo já perdera toda a esperança de sair da fortaleza, quando lhe surge na mente uma ideia; tentar a  evasão de qualquer maneira, em hora diversa daquela  que ambos haviam planejado a tanto tempo. Os guardas haviam posto o corpo do velho num saco, que, à noite, lançariam ao mar; então ela retira o cadáver dali, arrasta-o para sua cela, e toma o lugar do outro. Os guardas vem buscar o saco, levam-no para fora e atiram-no à água. Edmundo sai do seu invólucro e nada por muitas horas. Já está prestes a cair exausto, quando um barco de pescadores o recolhe a bordo e, prosseguindo sua rota, leva-o para longe da França. Durante os meses que passara com Faria, este lhe falara de um extraordinário tesouro enterrado na ilha de Monte-Cristo, e a essa ilha desabitada o fugitivo se dirige e descobre o tesouro, que é ainda mais valioso do que lhe dissera o Abade, e dele se apodera. 
                       Pouco tempo depois, faz sua aparição em Paris um personagem que, com suas fabulosas riquezas e com sua atitude, atrai a curiosidade da alta sociedade parisiense. Faz-se chamar de Conde de Monte-Cristo, dispões de seu dinheiro de maneira principesca; com altos gastos revela-se em tudo um grande senhor. Mas, algumas vezes, o Conde desaparece e então, entra em cena o Abade Busoni, o qual vaia visitar tanto o armador Morel quanto o alfaiate Caderousse. O primeiro ajudara o pai de Dantés, mas agora, tendo-lhe naufragado seu último veleiro, está à beira da ruína. O Abade providencia tudo para que Morel seja salvo, e depois vai em busca de Caderousse, que não trabalha mais como alfaiate, e possui um restaurante no campo. Também Caderousse, nos limites de suas modestas posses, auxiliara o velho Dantés, e o Abade o recompensara com uma preciosa gema. Infelizmente, esta serve apenas para excitar os maus instintos de Caderousse que, após have-la vendido a um mercador, mata-o para retomar a joia e apodera-se do dinheiro. 
                       Havia muitos anos que aqueles que tinham lançado  Edmundo às masmorras do castelo de If viviam uma existência luxuosa, cheios de honrarias. Danglars tornara-se banqueiro. Mondego, com o titulo de Conde de Morcerf, fora nomeado general e desposara a desolada  Mercedes; o juiz Villefort alcançara o mais alto grau da magistratura. Tudo corria bem para os malfeitores, mas suas vidas faustosas estavam com os dias contados. O Conde de Monte-Cristo atrai todos os três para sua órbita e, com sutil perfídia, inicia a vingança de Edmundo Dantés. Antes de tudo, arruína o  banqueiro, obrigando-o a entregar até o último dos seus recursos para livrar-se de uma quadrilha de salteadores em companhia de seu filho menor. E, por último, desmascara Moorcerf, que se torna riquíssimo e fora nomeado general, somente por haver traído, de maneira ignóbil, ali, o paxá de Janina, vende-o aos turcos. 
                       Sem revelar sua identidade, o Conde de Monte-Cristo consegue reerguer a indústria dos estaleiros de Morel, ameaçada por gravíssima crise, tornando feliz o filho do falecido armador. 
                       E quando Alberto de Morcerf, que nada sabia das velhacarias do pai e se julga certo de estar cumprindo um dever de filho, desafia aquele que acusara Mondego perante o Senado, obrigando-o ao suicídio, a fim de não sofrer a suprema vergonha de uma condenação, o Conde de Monte-Cristo parece resolvido, dada sua formidável habilidade no manejo da pistola, a matar, inexoravelmente, o filho daquela Mercedes, que tão depressa o esquecera, casando-se com o primo. Mas, durante a noite precedente ao duelo, a própria Mercedes vem atirar-se-lhe aos pés. Somente ela reconhecer, no enigmático Conde de Monte-Cristo, aquele Edmundo Dantes, com o qual estivera prestes a casar-se, e ela o suplica para poupar o jovem inocente. A sede de vingança, que por tantos anos abrasara o coração e a mente de Edmundo Dantés, apaga-se diante do pranto desconsolado da infeliz mãe e, na manhã seguinte, ao chegar ao campo de luta, o habilíssimo atirador, na presença dos padrinhos, apresenta suas desculpas a Alberto que, já resignado a morrer pela mão daquele insuperável adversário, quase nem acredita no que houve. 
                      Alguns dias depois, Alberto de Morcerf deixa a França, para ir lavar a nódoa paterna, combatendo na Legião Estrangeira, na  África, e Edmundo Dantés, que para todos continua sendo o Conde de Monte-Cristo, parte rumo ao Oriente, com Haidéia, a filha do Paxá de Janina, que ele salvara da escravidão e que o ama meigamente. 
                      O Conde de  Monte-Cristo é a epopeia da vingança; uma vingança implacável, auxiliada pela descoberta de um fabuloso tesouro, organizada por uma frieza e uma grande habilidade. Talvez Edmundo Dantés não teria sido tão inexorável, se Danglars, Morcerf e Villefort tivessem ferido apenas ele; mas provocaram a ruína de seu pobre pai, apresentando-lhe a morte pela miséria, e o filho não sabe nem sequer perdoar aqueles que escolheram como primeira vítima de sua perversidade o velho Dantés. 




BREVE BIOGRAFIA DE 
Alexandre Dumas.
Nascido em 1803, filho de um valoroso general napoleônico, que morreu quando Alexandre era ainda adolescente, precisou sujeitar-se, para suportar a si próprio e a mãe, a trabalhar como copista junto ao Duque de Orleans; mas, nesse emprego, não devia permanecer muito tempo, porque já em 1829, com apenas vinte e seis anos, o bom êxito de seu primeiro drama histórico Henrique III, abre-lhe as portas da celebridade, e coloca-o no restrito número dos autores melhor remunerados. 
                  No breve giro de alguns anos, seis dramas, além de Henrique III, conquistaram-lhe a preferência do público, que não se fartava de assistir às representações dos mais felizes, como Antony e Kean.  Vieram depois, os romances:  "O Cavaleiro d'Harmental", em 1843, "Os Três Mosqueteiros",  e "O Conde de Monte-Cristo", em 1844, "Vinte Anos Depois", em 1845, "O Visconde de Bragelonne", em 1848, e mais uma longa série, quase um por ano, todos de romances de aventuras, tendo, na sua maioria, como enredo  um período histórico ou algum clamoroso episódio da vida contemporânea. Genial e generoso, ativíssimo e benquisto  não só na França, mas também na Inglaterra,na Espanha, na Itália, à época da   expedição dos 'Mil", uniu-se a Garibaldi, na Sicília, lhe ofereceu todo o dinheiro que possuía, empregando-o, na França, para armas e munições destinadas aos "Camisas Vermelhas".  Em Nápoles, Garibaldi  nomeou-o diretor das Belas-Artes, cargo que permitiu ao dinâmico escritor dedicar-se novamente a suas pesquisas, nas escavações de Pompéia, e de fundar um apreciado jornal, sob o título de "O Independente". 
                   Admirador incondicional de Napoleão Bonaparte e dos Marechais do Corso, que com o imperador tinham colaborado - justificando-se com o exemplo do grande conquistador -, também assumiu alguns colaboradores, dentre os quais o mais famoso foi Augusto Maquet, cuja mão se reconhece especialmente na tua trama de "Os Três Mosqueteiros" e respectivo ciclo. 
                    Intensamente aplaudido, aclamado pelo público de todos os teatros, Alexandre Dumas morreu, aos sessenta e sete anos, no dia 6 de dezembro de 1870, deixando à posteridade um importante número de obras. 
                    "O Conde de Monte-Cristo" fora publicado em plena era romântica, que é o fruto do romantismo, não podia deixar de encontrar pleno êxito, que ainda hoje persiste, a quase dois séculos da primeira edição. As reedições continuam, e os leitores interessam-se e palpitam por esses personagens, que se tornaram o símbolo de outros tantos destinos: Edmundo, o vingador; Danglars, o invejoso; Mondego - Morcerf, o traidor; Villefort, o ambicioso; Mercedes, a mulher que, por causa da sua fraqueza,  se deixou envolver pelos acontecimentos.  
                     Uma obra que se passa  entre as conspirações bonapartistas e os "Cem Dias" até a Revolução Francesa; da desesperada solidão do subterrâneo do castelo-presídio de If à douta companhia do Abade faria; da selvagem beleza da ilha de Monte-Cristo ao fausto da alta sociedade parisiense; da ruidosa Roma de 1830 à solenidade do Senado Frances, reunido para julgar um seu membro, o general Conde  de Morcerf. Através de tantas vicissitudes, animado por tantos personagens, não deixa jamais um só momento de trégua ao leitor, porque os golpes de cena e os imprevistos se sucedem num contínuo redemoinho que, se de um lado estarrece, de outro revela a poderosa fantasia do escritor, que nos deixou, além deste romance, tantas outras obras densas de trama, ricas de figuras, interessantes, em cada uma de suas páginas.  
Nicéas Romeo Zanchett 
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