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sexta-feira, 28 de junho de 2013

MOBY DICK - Por Herman Melville


MOBY DICK - A BALEIA 
Por Herman Melville 
                      Ismael é nome do personagem a quem o escritor confiou a incumbência de narrar-nos a história dessa caçada  à grande baleia. Não nos é difícil descobrir que, nele, Herman Melville incutiu um pouco de si mesmo, tanto que este personagem se torna caçador de baleias mais por espírito de aventura do que pela ânsia de lucro, e resulta diferente daqueles que se apresentarão no decurso do romance. Será, de fato, Ismael que, interrompendo a narrativa, comentará os acontecimentos de maneira arguta e objetiva; será ele, ainda, quem nos dará todos os esclarecimentos técnicos sobre as baleias, os baleeiros e a difícil arte da caça; ele nos falará em tom catedrático, mais digno de um literato do que de um marujo. Nós, por falta de espaço, não nos deteremos nestes longos capítulos, nos quais o "alter ego" de Melville, baseando-se em tratados científicos, na Bíblia e na literatura antiga e contemporânea, nos transmite verdadeiras e próprias lições sobre baleeiros. Todavia, convém observar que tais dissertações urgem frequentemente no livro, por que isso nos fará melhor compreender que Moby Dick não é simplesmente o romance de um escritor de histórias de aventuras, mas sim a obra de um literato, amante, na mesma proporção, das meditações sobre livros e das movimentadas experiências da vida. 
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                                                      A HISTÓRIA DE MOBY DICK 
                      No início do século XIX, Ismael, moço muito pobre e corajoso, depois de haver militado por algum tempo na marinha mercante, decide embarcar numa baleeira, com um contrato regular de três ou quatro anos; seja porque o atraísse a perspectiva de navegar por mares desconhecidos, seja por se encontrar curiosos por experimentar  a arriscadíssima caça à baleia; porque naquele tempo caçar baleia era profissão que exigia muita coragem, uma vez que, ao contrário de nossos dias, onde caçar baleia é uma covardia, as condições de caça naquela época eram muito rudimentares. 
                       Tendo deixado Manhattan em pleno inverno, Ismael vai para a Nova Bedford, a fim de alcançar, dali, Nantucket, o porto de onde habitualmente zarpam os baleeiros de então. 
                        Em Nova Bedford, todo compenetrado com a nova profissão que o aguarda, vai hospedar-se numa taverna de marinheiros, a ali o taberneiro concorda em recebê-lo desde que ele partilhe a cama com outro baleeiro. O encontro entre os dois ocasionais companheiros de quarto é dos mais singulares, porque Ismael, tendo adormecido antes da chegada do desconhecido, é despertado em plena noite pela entrada deste, e quase enlouquece de pavor ao ver que o homem é um selvagem de uma ilha dos Mares do Sul, talvez pertencente a alguma tribo de antropófagos. 
                       Queequeg ( esse é o nome do selvagem), apesar da sua atroz aparência, é, na realidade, um homem de boa índole e habilíssimo arpoador e, embora a tatuagem e a religião de seu povo, bastante civilizado.  Os dois travam amizade e resolvem enfrentar juntos os perigos do mar. Alguns dias depois, em Nantucket, Ismael encontra encorajamento para si e para seu companheiro, a bordo do "Pequod", uma velha baleeira, veterana de numerosas caças à baleia (como atestam os troféus de animais mortos que a ornamentam), e nela ambos zarpam, pouco tempo depois. 
                        A tripulação de "Pequod" é das mais heterogêneas; os homens que a compõem são oriundos das mais distantes regiões e cada um deles possui uma história própria e uma personalidade diversa; há o marinheiro de Natucket e aquele holandês, o marinheiro francês e aquele siciliano, o irlandês, o maltês, o marujo dos açores e aquele inglês. Diversa é a idade, diverso é o aspecto, diversa é a maneira de manifestar a própria coragem . Empada, o cozinheiro negro, possui um rosto rugoso, mas tem toda a astúcia e a fantasia de sua raça, ao passo que Pip, ao qual cabem as funções mais genéricas da vida de bordo, é um rapaz tímido, meio arredio e, talvez por ser menos esperto do que os demais, é também o menos corajoso. Possantes e hábeis, ao invés, são os três arpoadores, isto é, os homens que tem a incumbência de lançar o arpão durante a caça baleia. Queequeg, o selvagem amigo de Ismael, Tashtego, um pele vermelha de cabelos compridos e figura ágil e impulsiva, e Dagoo, um negro de estatura gigantesca, que ainda não se resolveu  abandonar os deslumbrantes balangandãs de sua raça. Portanto, os homens da tripulação provém de todos os recantos do mundo, contudo, obedecem, com igual prontidão, as ordens dos oficiais. Starbuck, o imediato, esperto mas prudente, respeitoso para com seu comandante, mas resolvido a enfrentá-lo quando este transmite ordens que lhe parecem um tanto arriscadas; Stubb, alguns anos mais jovem, sempre disposto a encarar os acontecimentos com espírito humorístico; Flask, recentemente promovido ao posto de oficial e ainda um tanto tímido e inseguro; e, finalmente, Acab, o capitão. Ismael não o conhecera antes de embarcar-se, porque Acab estava de cama, convalescendo de um horrível ferimento, que lhe custara a amputação de uma perna. 
                     Nos primeiros dias de navegação, Acab, a quem está confiada a sorte da equipagem, não se deixa ver; passa longas horas na cabina, ou perambula pelo tombadilho  sem trocar palavra com os oficiais, com a testa franzida e olhar fixo no mar, com se um íntimo conflito o perturbasse. Mas, quando cai a noite e os marujos, em seus imundos catres, procuram adormecer, Acabe passeia sobre o convés, arrastando pesadamente a perna de osso de baleia,  que o mestre carpinteiro lhe fizera. E eis que um dia toda aquela mágoa que lhe rói o peito é revelada à tribulação: faz a turma toda se reunir e, diante dos rostos ansiosos dos marinheiros, conta-lhes os tristes feitos da Baleia branca, Moby Dick, e pragueja contra ela, que a mutilara durante  uma caça, assim como mutilara e matara outros corajosos que tentaram caçá-la; e incita seus ajudá-lo a vingar-se, acompanhando-o através de todos os mares frequentados por baleias, até encontrá-la e matá-la. E, como que para sinetar esta declaração de impiedosa vingança, Acab manda pregar no mastro um dobrão de ouro, que ele dará ao primeiro que avistar a baleia. Tremem os tripulantes, ante as palavras do seu capitão, e há ainda quem sacuda a cabeça, em sinal de dúvida, porque desde muito tempo aprenderam a temer Moby Dick, a baleia que se distingue das comuns não só pela sua cor, mas também por sus espécie de maligna inteligência. mas o ímpeto de Acab convence, e todos fazem este juramento;  o "Pequod" não regressará enquanto não houver encontrado Moby Dick, ainda que o preço para esta empresa deva ser a morte. 
                    A partir daquele momento, a sombra da Baleia Branca parece pairar sobre os tripulantes, ainda que, pela necessidade de lucro da própria tripulação, o capitão renuncia caçar as baleias que se aventurarem em sua rota. É Tashtego, o arpoador índio, aquele que em primeiro lugar consegue avistar o característico esguicho de uma baleia. Imediatamente as lanchas são lançadas ao mar, três comandadas por oficiais, assistidos pelos arpoeiros, e uma comandada pelo próprio Acab. A tripulação desta última é, porém, composta não pelos homens que Ismael já havia conhecido, mas sim por misteriosos marujos embarcados clandestinamente, por desejo de Acab, que os quisera consigo como guarda-costas. A caça á baleia não tem resultado feliz, porque o cetáceo consegue escapar; mas, não transcorre muito tempo e outra se apresenta; e desta feita é morta pela arpão lançado por Stubb. As lanchas voltam ao navio arrastando o enorme troféu, que é preso bem firma nas amuradas. No dia seguinte, o tombadilho se transforma numa espécie de enorme açougue, e o sangue da baleia suja os homens  e os apetrechos; pedaço por pedaço, o corpo do cetáceo é de fato içado à bordo e a estiva se inunda com sua abundante gordura. Semi-imerso na água, o imenso cadáver é sacudido por contínuas convulsões, que tornam ainda mais difícil o trabalho dos arpoadores, entretidos em cortar-lhe o dorso em grandes secções; tais abalos são devidos aos tubarões que, atraídos pelo odor do sangue, acorrem às  centenas e agora se encontram fazendo farto banquete, sob o ventre do animal. 

                   Os marinheiros do "Pequod" enfrentarão outras peripécias, geralmente com bom êxito, sempre perigosas, antes de terem notícia de que Moby Dick deve estar circulando não muito distante deles.  Já transcorreu mais de um ano; as estivas estão superlotadas de presas e, graças a Deus, ninguém ainda perdeu a vida. Somente Pip perdeu algo e, pode-se dizer, o melhor de si mesmo; durante a caçada, ele fora atirado para fora da lancha e caíra ao mar, ali permanecendo por longas horas, até quando os homens do "Pequod" conseguiram descobri-lo. E agora ele perdeu o juízo e vaga pelo navio, imerso em longos e desconexos solilóquios, nos quais per vezes menciona a Baleia Branca.  O "Pequod", neste ínterim, já cruzou com algumas baleeiras e com elas permutou notícias quanto ao andamento da caça; mas, às outras baleeiras, Acab nada perguntou sobre a longínqua Nantucket nem sobre a marcha  da navegação ou da ubiquação dos bandos de baleias, mas sim, sempre, como se estivesse obcecado com este nome, sobre Moby Dick. E por todas as tripulações sempre foi aconselhado a evitá-la, porque há quem a conheça através das narrativas de outros marinheiros e que já experimentou pessoalmente a perfídia do monstro. E agora, depois destes meses de busca, o capitão da "Raquel" trás notícias preciosas sobre Moby Dick e também as mais horríveis; ele, de fato, tentara caçá-la no dia anterior, mas justamente nesta luta vã e extenuante, perdera um filho, pequeno marujo de 12 anos,  e uma lancha repleta de homens; agora, a "Raquel" vagueia por aqueles mares, na esperança quase absurda de ainda poder  localizar algum sobrevivente.  Estremece a turma do "Pequod" ante aquela narrativa; mas o seu capitão, agora que o inimigo mortal está mais próximo, parece ainda mais firme em seu desejo de vingança. De nada valem os lamentos do capitão do "Alegria", encontrado alguns dias depois, que lhe exibe os míseros despojos de um marinheiro, o único, dos cinco mortos por Moby Dick que ainda será sepultado,  para fazê-lo mudar de opinião.

                 Finalmente é avistada a Baleia Branca; seu copo gigantesco e níveo cintila sob os raios do sol e ela, plácida, nada entre as vagas, brincando à sua maneira com as ondas, como se nada neste mundo lhe causasse medo. Começa a caçada, a mais longa e terrível de todas. Durante três dias consecutivos, as lanchas são lançadas ao mar. Moby Dick é acuada de perto e os arpões são atirados contra ela. Mas, por três vezes, Moby Dick consegue desviar-se dos arpões e dividir as lanchas, enfraquecendo-lhes o poderio, revirando-as com seus tremendos golpes de cauda. Mas, no terceiro dia, um fato mais horrível ocorre: Moby Dick, após haver esfacelado as lanchas, atira-se contra o navio, e aquele corpo enorme e cruel, que nenhum arpão conseguiria ferir mortalmente, abre uma larga brecha na carcaça de madeira. 
                   Com Acab, o vingador, pereceu quase toda a tripulação, e sobre a água boia a baleia, em sua bestial inconsciência, brincando à sua maneira com esguichos. 
                   Somente um escapou à morte, Ismael. O socorro chegou-lhe, ainda que indiretamente, de parte de Queequeg, o selvagem  ligado a Ismael por uma amizade tão grande que por ele  estava disposto a tudo, até morrer. E foi, de foto, o esquife de madeira, que Queequeg, pressagiando sua próxima morte, manda construir a bordo do navio, que, flutuando sobre a imensidão das águas, ofereceu a Ismael um apoio a que agarrar-se, um seguro sustentáculo. Parece um paradoxo, mas para Ismael aconteceu mesmo assim; aquele ataúde, que deveria ser o túmulo de seu melhor amigo, foi para si a salvação. Agarrado a ele, acuado de perto pelos tubarões e pelos selvagens falcões marinhos, foi avistado e recolhido pelos homens do "Raquel", ainda velejando por aquelas águas, em busca dos marinheiros perdidos. 
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BREVE BIOGRAFIA de Herman Melville.
                    Herman Melville, autor deste magnífico romance, que figura entre os mais vigorosos e complexos da literatura americana, Nasceu em Nova York, em 1819, e morreu na mesma cidade, em 1891, após a haver entre seus originais para serem impressos, além de "Moby Dick, ou A Baleia", que é sua obra prima, 1851; "Um olhar à vida polinésia" 1846 e "Omoo, uma história de aventuras nos Mares do Sul, 1847. Estes romances, embora não sejam cem por cento autobiográficos, são, todavia, inspirados em experiências realizadas pelo próprio autor, em sua mocidade. A vida de Melville foi sobremaneira aventurosa e grande parte dela foi transcorrida nos mares. 
                    Em 1842, Melville partira a bordo de um navio, como marinheiro, mas, quando o barco chegou às ilhas Marquesas, e precisamente na cidade de Nukeva, ele, farto da vida que levava a bordo, decidiu não mais embarcar e passou a viver na ilha, em companhia de uma tribo de antropófagos, durante quatro longos meses. Este seu romanesco período de vida foi por ele descrito, nos seus mais minuciosos detalhes, em seu primeiro romance "Typee" ou "Um olhar sobre a vida polinésia", já citado acima. Haviam passado cerca de quatro meses desde que ali desembarcara, quando chegou às ilhas Marquesas um navio australiano, que desejava engajar marinheiros.  A tripulação libertou, portanto, Melville daquele suave cativeiro e o reconduziu para bem distante daqueles  selvagens, junto aos homens civilizados aos quais pertencia. Depois dessa romanesca experiência de vida, Melville prestou serviço, como marinheiro, na armada norte-americana. 
Nicéas Romeo Zanchett    

Um comentário:

  1. É um clássico maravilhoso. Moby Dick é épica, uma história que ilustra grandes cenas, preocupações filosóficas e dualidade que encontra-se em todas as criaturas. A história da grande baleia branca, é um magnífico dramatização do espírito humano em um cenário de natureza primitiva. Actualmente encontro-me ler este clássico, tomar algumas páginas e ele realmente está me cativar. Eu só vi o filme No Coração do Mar do Ron Howard é, e é um espetáculo visual bastante interessante que recebe cenas específicas com força suficiente. Uma grande história, grandes performances, grandes efeitos especiais e cenas de ação enérgicos, mas talvez o script é um pouco dispersos querendo cobrir muitos tópicos, a mensagem final não deixa de ser claro e não consegue mover como deveria.

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